MÉJICO LINDO
Junho de 1995
Agora, a rota pra a Cidade do México passa por Cancún. Milhares de brasileiros aprenderam o caminho do Caribe.
A comparação de Cancún com Miami é inevitável, tanto em virtude de sua forma peninsular quanto pele concentração de hotéis e pontos turísticos que tomaram a experiência norte-americana como modelão e paradigma.
Mas Cancun não é Miami! É tão bonita quantos, ou até mais considerando a zona verde de Yucatán que a circunda, assim também as ruinas pré-hispânicas da região.
Parece ter sido projetada como uma espécie de apartheid: os ricos na península, os pobres no continente.
O aeroporto parece um shopping center, tanto na arquitetura quanto no aglomerado de lojas e turistas comprando. Principalmente agora, depois da crises do ano passados que derrubou o valor do peso e acabou com as pretensões consumistas de “primeiro mundo”, ilusão criada com a adesão do país ao NAFTA — o acordo de livre comércio dom os EEUU.
A Cidade do México continua bonita, senhorial, descomunal. Mais de milhões de pessoas num sistema de conurbação problemática.
Apesar das sua dificuldades infras-estruturais, a cidade é um cenário fantástico pra descobertas, que compreende as suas relíquias astecas, seus monumentos coloniais de inspiração hispânica e a sua modernidade, expressa em edificações e murais de artistas mexicanos. Nem os sucessivos terremotos conseguiu limitar seu crescimento nem a ânsia de construir grandes edifício — que ainda são poucos mas veem crescendo ultimamente.
Desta vez fiquei no bairro de Coyocan, a caminho da UNAM, onde existe um comercio sofisticado e bons restaurantes. Boa arborização, bom padrão de vida, longe da pobreza dos subúrbios.
Apesar de pobre, não se vê tanta violência nem tantas crianças abandonadas e mendigos como no Rio de Janeiro.
Estando em Coyoacan, aproveitei para visitar os viveiros de planta. Fantásticos. Comprei o que havia de melhor ali: cactos e suculentas. Mas saí frustrado por não ter encontrado bromélias. Somente a popularíssima Aechmea fasciaata, de origem brasileira e uma variedade de Cryptantus acaulis.
México é o país do cactos, principalmente ao norte (região que não visitei ainda). Cactos gigantescos, outros minúsculos, numa biodiversidade que deve ser ímpar em todo o mundo. Pena que não seja possível trazê-los livrementes e que não estejam preparados para fornecer os certificados fitossanitários correspondentes para facilitar o seu transporte.
A vida está agora baratíssima para os turistas brasileiros, depois da desvalorização do peso e a sobre-valorização do real. Uma noite num restaurante da Praça Garibaldi, com show, jantar e tequila sai por menos de vinte dólares. O taxi de volta ao hotel, de madrugada, dois dólares por pessoa. No elegante Hippocampo, come-se o melhor da cozinha mexicana por dez dólares.
Como o motivo da viagem era uma reunião profissional, houve pouco tempo para os passeios, concentrados nos fins de semana. Primeiro, à histórica e bela cidade de Puebla. Bela, não; belíssima. A harmonia arquitetônica da parte colonial da cidade, com seus azulejos e cerâmicas nas fachadas, é espetacular. E que dizer da riqueza detalhista e sobrecarregada de talhas de ouro sem suas igrejas, a exemplo da monumental Capela do Rosário, com sua sobreposição de estilos que vão do barroco rococó ao churrigueresco? Uma luxúria.
Emocionante, pungente mesmo, é visitar o Convento “escondido” de Santa Mônica. Hoje é um museu aberto à visitação pública, com suas relíquias religiosas. Antes foi um cárcere para mulheres das altas linhagens, sob custódia da Igreja. Um horror. Mesmo depois de proibidos os conventos que abrigavam leigas sem vocação nem piedade, quando houve a separação da Igreja do Estado no século passado, o Convento de Santa Mônica continuou existindo secretamente, escondido detrás da igreja, protegido pelo silêncio dos religiosos e pela cumplicidade dos vizinhos. Ali viveram mais de 70 anos clandestinamente, desafortunadas mulheres, enterradas vivas ou encarceradas para o resto de suas desgraçadas vidas, levadas para lá pelos familiares, para cumprirem o desterro eterno pelos “crimes” de desobediência, gravidez ilegal ou infidelidade conjugal. Passaram os derradeiros e longos anos de suas vidas em celas frias e inóspitas, sem qualquer conforto, submetidas a torturas e penitências, purgando pecados criados pelo preconceito. Muitas morreram violentamente, vítimas de agressões ou por vida do suicídio, enterrada ali mesmo, secretamente, junto de seus filhos. Páginas obscuras de fanatismos religioso e das convenções sociais autoritárias e machistas.
Em Puebla é possível encontrar as famosas cerâmicas de Talavera, em sua aprimorada versão mexicana, rigorosamente artesanal. Belíssimas. Trouxe pratos de paredes e uma azulejos para decorar o portão da Chácara Irecê, que construí nos arredores de Brasília. Como sempre, arrependi-me por ter trazido poucas! Tão belas e tão baratas! E havia as peças de ônix...
O forte de Loreto nem deu para ver direito, por causa da chuva.
O ponto alto da excursão foram as ruinas da monumental pirâmide de Cholula, considerada a maior do mundo!
Foto: Expedia
Na verdade, sete pirâmides “enterradas, superpostas, construída ao longo de centenas de anos, em diversos estilos por diferentes culturas, apesar da predominância tolteca, da região de Cholula. O que era um cenário para os cerimoniais indígenas de louvação e sacrifício aos deuses, acabou soterrado e encimado por uma igreja católica espanhola. Agora os arqueólogos desenterraram parte da edificação, cavaram imensas galerias em seu interior, desentranhando os mistérios do que antes parecia apenas um monte no horizonte. Ao fundo, a imponência dos vulcões.
Já próximo da cidade do México, visita-se a localidade de San Marin Texmelucan, onde é possível comprar artesanato indígena da região. A cidade é feia, pobre, já com as característica de pobreza que espelham as grandes cidades latino-americanas.
Um belo passeio. Oportunidade para rever tantos amigos do continente, de toda Iberoamérica e para desfrutar da inegável cordialidade e hospitalidade mexicana.
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